terça-feira, 4 de junho de 2013

Mobilidade urbana, questão de coletividade

A qualidade de vida, o bem-estar das pessoas e o trânsito nas cidades dependerão do pensamento coletivo. Esse parece um tema recorrente, mas infelizmente tem ficado despercebido. A cada minuto o trânsito, a qualidade de vida e a poluição pioram nas cidades brasileiras e pouco tem sido efetivamente feito para interromper esse processo. Medidas e ações paliativas são tomadas para melhorar a mobilidade e o fluxo dos veículos, como o aumento do número de faixas ou o alargamento das ruas e avenidas. Porém, muitas acabam tendo efeito oposto e tornam o trânsito ainda mais difícil, aumentando o estresse, o prejuízo para a economia do País e para o meio ambiente.
Claro que o tema não pode ser tratado de maneira igual para cada cidade, pois a realidade das metrópoles é diferente em municípios menores. Mas o que precisa ser comum é o pensamento coletivo, o foco no bem de todos. Não será somente o maior uso do ônibus e do transporte coletivo que resolverá o problema da mobilidade urbana. Também não bastam somente a implantação de novas tecnologias limpas ou mesmo legislações restritivas. Todas têm o mesmo objetivo, mas se colocadas em prática de maneira isolada e não integradas, não surtirão o efeito positivo e necessário que buscamos no curto, médio e longo prazos.
Consciência, bom senso, cidadania e um monte de outras características altruístas serão necessários para que consigamos, de fato, evoluir no tema e transformar o cenário brasileiro e mundial. Afinal, “que mundo desejamos para os nossos filhos?”.
Cerca de três milhões de veículos novos passam a circular somente nas ruas brasileiras a cada ano (no mundo são 80 milhões). Um milhão de motocicletas disputam o exíguo espaço em uma competição injusta e desigual que vai do pedestre ao ônibus biarticulado, passando por bicicletas, automóveis, caminhões e uma série de outros meios de deslocamento, como carroças ou carrinhos puxados por pessoas. Logo ali ao lado, embaixo ou em cima, trens e afins também circulam permeando cada centímetro, quadrado e cúbico. Como definir prioridades? Como estipular limites? Como articular todos esses “modais” para que cada um flua, siga o seu caminho, se desloque e chegue, em tempo, seguro e sem estresse ao seu destino? E nem abordamos a qualidade do ar ou a temperatura ambiente, a ocupação do solo ou da energia, a liberdade ou o direito de escolher qual desses meios utilizar.
Ar mais limpo, novas tecnologias e sistemas inovadores, veículos modernos. Nada disso vai surtir efeito se o pensamento de cada cidadão não mudar e estiver focado na mobilidade de todos, no direito de ir e vir, no dever de não obstruir ou poluir, na consciência de que somos, na essência, iguais perante o espaço e o tempo: fisicamente, ocupamos o espaço durante um determinado período de tempo.
É fundamental que sejam incentivados encontros para a discussão deste assunto que tanto influi em nossa qualidade de vida. Se não agirmos juntos e integrados, assim como cada modal, entidade e organização, daremos “braçadas” uns nos outros sem sair do lugar. “Empacados”, como se o nosso espaço fosse uma grande areia movediça e o nosso destino, a inércia total.

Uso de carro cresce 105% em 10 anos
Parte do problema de mobilidade na Grande Florianópolis é consequência da estagnação no número de usuários de transporte coletivo.
A quantidade de passageiros que usa ônibus intermunicipais em Biguaçu, São José, Palhoça e Florianópolis se manteve estável na década, aponta estudo do Deter que analisou o intervalo de 2001 a 2011. No mesmo período, a quantidade de carros e motos nas ruas destas cidades cresceu 105,5%, chegando a 421.148 veículos.
A opção pelos carros ou motos se explica porque nestas cidades o transporte coletivo nunca ganhou planejamento de longo prazo. Os ônibus não contam com corredores exclusivos e disputam espaço com veículos mais ágeis.
As desvantagens poderiam ser amenizadas se houvesse uma estratégia regional de transporte, mas os principais municípios jamais sentaram à mesa para debater o tema e encontrar saídas em conjunto. O que já não é bom fica ainda pior entre janeiro e março. Estudos da Santur mostram cerca de 500 mil pessoas passam nesses meses pela região. Se as complicações com o verão são passageiros, os problemas gerados pela geografia da região não podem ser contornados.

Crescimento populacional fica acima da média do país
Todos os deslocamentos de entrada e saída de Florianópolis exigem travessia em uma das duas pontes que ligam a Ilha ao Continente.
As dificuldades só aumentam porque o crescimento populacional na região supera as médias nacional e estadual. Enquanto o país aumentou 12,3% sua população na última década, o número de moradores de Palhoça, por exemplo, subiu 34,94% e o de São José, 21,14%.
O crescimento econômico também influencia nos problemas de trânsito. As casas e prédios se concentraram em determinados locais e os comércios em outros. As pessoas saem dos mesmos lugares e têm os mesmos destinos.

(DC, 10/05/2013)

Postado pela equipe: Luan Fronza Bonsenhor e Luana Medeiros.

Um comentário:

  1. Luan e Luana, vocês abordam um tema central para a sustentabilidade socioambiental da região conurbada envolvendo Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. Imagino que vocês se basearam na matéria do Diário Catarinense, mas não a copiaram.
    Um autor que tem produzido bons trabalhos sobre esse tema é Eduardo Alcântara Vasconcelos.

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